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[O Essencial - Conto 1 Parte 1] Carlos

15 de jan. de 2015


O Essencial
7 contos:
2 amigos assaltantes.
1 casal de adolescentes prestes a se separar.
1 casal de bruxos viajam à nossa Terra em busca de um objeto.


De algum jeito, o caminho dos seis vai se unir, terminando num final emocionante.
   Carlos e Ruan cresceram juntos, a favela em que vivem hoje em dia é um bairro. Apesar da criminalidade presente, e dos furtos do passado, Carlos tenta levar um vida digna, já Ruan se perdeu no mundo do crime, sendo o braço direito de um chefe do tráfico na região. Após perder seu emprego e ter sua casa roubada, Carlos decide fazer um último roubo, o maior e mais ambicioso de sua vida, com o incentivo de Ruan. Os dois partem para o roubo para nunca mais voltar.

   No outro lado da cidade uma história de amor salva a vida de Tayna e Thiago, dois adolescentes que se conheceram numa clínica de reabilitação, desde então não se largam, mesmos sob o olha obsessivo da mãe de Tayna e do tio de Thiago, o amor salva, mas também condena.

   Keyla e Roger são dois bruxos renomados em seu mundo, após o roubo de seu mais recente experimento, que levou dez anos para ficar pronto, ouviram que o ladrão é  um fugitivo que está em nossa Terra, eles decidem vir atrás do objeto, que tem poder nuclear. Seus pescoços e também dos habitante daqui dependem do resgate desse misterioso objeto.

Conto 1 Parte 1 - Carlos.
- Bom dia! – Digo para a linda mulher ao meu lado, ela me encara, acabamos de acordar. – O que? Por que tá me encarando? – Ela pisca e sorri, um sorriso sarcástico claro, seria estranho ela sorrir logo pela manhã.
- Bom dia, claro, seria um ótimo dia, se não tivesse tanta coisa pra fazer e pouco dinheiro pra pagar elas. Vamos levantar que o dia é curto. – Ela sai da cama direto pro banheiro e eu espero que ela saia pra usar. Estamos juntos à quinze anos, casados à dez. Já caímos e saímos da rotina algumas vezes, mas sei que ela é a mulher da minha vida e assumi o risco da rotina quando tudo começou.

   João acordou antes de nós dois e foi direto para a televisão, ele tem dez anos e é a melhor coisa que já fizemos na vida, pelo menos a única que valeu realmente a pena.

   Nosso bairro melhorou bastante nos últimos anos, deixou de ser uma favela para ser um bairro de “pessoas humildes”. Nosso barraco agora é um pequeno terreno definido, e suamos por muito tempo para fazer dele uma casa de tijolos e cimento. Infelizmente, como muita coisa que já me aconteceu,  infiltrações apareceram pela casa toda e meu salário como sempre não garante muita coisa. Larguei a escola no primeiro ano, agora não consigo nem arrumar meu telhado.

   - Leva João pra escola, faz dois dias que ele não vai, se esse menino perder a vaga você é quem vai correr atrás de outra escola.
   - Carla, você diz isso como se a escola ligasse se um aluno faltasse uma semana. Mas de boa, eu levo ele. – Ela é do tipo mandona, acho que já me acostumei com isso. – E a entrevista de ontem, você nem comentou nada.
   - Se não comentei é por que não foi das melhores, não acha? Aquela vaca da entrevistadora me olhava como se eu fosse dar um tapa na cara dela, parecia até que lia mentes. Acho que não vão ligar, vou passar na minha mãe e depois vou pro centro, soltar mais currículos.
   - Sei... João me avisou que hoje tem reunião de pais. Quem vai?
   Ela me olha com desdém, digo com segurança que o casamento muda as pessoas, não que ela não seja a mesma garota que eu conheci no baile, acho que não se fala mais baile, no fluxo... Mas definitivamente ela está amargurada.
   -Se eu chegar cedo, eu vou, depende do trânsito e tudo mais, se não, vou amanhã falar com algum professor, mas acho que nosso anjinho é do tipo que não precisa que os pais vão saber do seu desempenho. – Dessa vez eu a olho com desdém.
   - Claro que precisa, se minha mãe tivesse ido às minhas reuniões talvez eu tivesse até terminado o ensino médio, não estariamos nessa pindaíba.
   - Ah, cala essa boca. Você não terminou e nem vai terminar por que é um preguiçoso, isso sim. – E mais uma vez a TPM me mostra o futuro, vejo que não vou ganhar essa discussão.

   Tomamos o resto do café quietos, ela só comento o resto da geléia e bolacha e eu terminando meu pão com manteiga e café. Grito João quando acabo.
   - Filhooo, João vem tomar banho filho. – Não vem, como de prache a tv o hipnotiza. Vou buscá-lo.
   - Eu tenho que ir mesmo pai? Tá chovendo! – Ele diz fazendo carinha quando chego, uma gota de uma das goteiras cai bem no seu naris e nós rimos.
   - Viu só, mesmo se você não for, a chuva te encontra aqui dentro, além do mais, você não quer uma casa com goteiras como essa não é? Então tem que estudar. – E mais uma fez, pais sendo irônicos. Acho que faz parte do pacote.

   Eu o levo para o banheiro, de onde Carla acabou de sair, ele fez corpo mole, mas eu já entendo disso e o “ajudo”. Ele já aprendeu a tomar banho sozinho, não gosta nem que eu fique no banheiro com ele, “Já sou grande pai, gente grande não leva o pai pro banheiro”, ele está crescendo tão rápido.

   O caminho da escola é fácil, duas ruas acima de casa, e logo do lado passa o ônibus que eu pego.
   - O senhor não vai deixa cair nenhuma bandeja hoje, né pai? – Diz ele como quem diz oi, quando me despeço dele.
   - Não, filho, papai já não derruba mais bandejas, agora sou um craque. – Eu o vejo entrar na escola e corro para não perder meu ônibus.

   No ônibus me sento e fico surpreso de ver que alguns pontos depois entra um grande amigo meu, bem, um ex grande amigo meu, acho que já faz uns cinco anos desde a última vez que nos vimos, quando discutimos e ele desapareceu logo em seguida sem nem se despedir, ele era sozinho na vida e eu o acolhia como a um irmão, assim como minha família, ninguém nunca mais soube dele. Ele me vê, não parece nem um pouco bem ou à vontade, mas se senta ao meu lado.
   - Meu Deus, não acredito que é você mesmo. – Digo, seco, queria abraçá-lo e fazer mil perguntas, mas ele não parece nada bem, soua bastante, olhos vermelhos e com olheiras tenêbrosas, deve estar drogado. Então vou com calma. – Você tá bem cara? Já  fazem, sei lá, cinco anos?! – Ele só olha pra frente. – Ruan?
   - Eu não queria ter ido embora naquele dia. – Sua voz é calma e suave, do jeito que me lembro, ele coloca a touca de cosaco, e fica olhando para as própias pernas. – Eu fiz merda de novo Carlos, das grandes. – Ele me olha com os olhos marejados. – Não queria que vocês se encrencassem por minha culpa. – Ele soluça bastante, coloco a mão no seu ombro e chego mais perto.
  -Escuta, ainda não sei o que você aprontou dessa vez, mas calma, sempre estivemos juntos em todo tipo de encrenca lembra?! – Digo mais para mim mesmo do que para ele. – Vamos descer aqui, tem um bar perto, vamos conversar. – teria de ser rápido, o trânsito nunca me ajuda, então minha cota de chegar atrasado já havia estourado.

   Ele sempre esteve com um pé no crime. Desde que eramos jovens ele já usava de tudo, com moderação, acho que se não se poupasse, não estaria vivo até hoje. Ele me conta que se envolveu com gente da pesada, acabou devendo muito, e a cobrança veio, eles ameaçaram a “família” dele, Ruan não queria que nos machucassemos e acabou indo para o lado dos traficantes. No dia que discutimos ele iria contar tudo e despedir, mas acabou se rendendo à droga de novo e chegou em casa triloco falando mil coisa sobre mim, sobre minha mulher... Não era a primeira vez que acontecia, eu não iria aguentar aquilo de novo e parti para cima, depois de uns socos trocado minha mulher nos separou, somente para dar lugar à discução, por fim ele foi embora e soubemos no outro dia que não tinha mais ninguém no barraco dele.
   Ele sabia que eu pegava esse ônibus e pegou puramente com um propósito.
   - Escuta – Ele aumenta seu tom de voz e aperta minha mão. – Eu preciso de uma última coisa! – Parece doer para ele, perfurar seu orgulho, mas talvez seja o medo. – Eles disseram que vou ter que fazer sozinho, nem um dos capangas deles vai me ajudar.
   - Tá, calma! E o que seria essa última coisa? – Pergunto já pensando que ele quer  alguma grana.
   - Eles querem que eu roube um banco. – Ele me olha com olhos arregalados, eu também arregalo os meus.
   Limpo a garganta, olho para frente por um segundo, tento pensar no que dizer... Sem sucesso.
   - Preciso que me ajude, cara! Em nome da nossa história ou sei lá, é a última coisa que peço. – Ele implora.
   - Eu não posso! Você sabe que agora tenho família! – Digo, levantando o tom de voz, algumas pessoas no bar olham pra nós dois. – Eu não posso, desculpa.
   - Eu não vou conseguir sozinho, você sabe. – Seus olhos se enchem de lágrimas, eu não olho. – Escuta, toma meu número, pensa primeiro, tenho certeza que você também precisa de dinheiro, me liga hoje ou amanhã ta? – ele sai do bar e some em meio aos prédios da cidade.

  
O conto foi dividido em duas partes para ficar melhor na hora da leitura. Para ler a parte 2 clique aqui.

Texto por Rafael
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